"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto." Bernardo Soares - Livro do desassossego
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Belo Sonho!
Atrás do vidro há cristais
Belos e tão coloridos
Parecem gotas de chuva
Batem no vidro atrevidos…
Por detrás do rosto sombrio
Brinca criança mimosa
Parece vazio e triste
Mas é travessa e formosa
Por entre a neblina
Há um mar de saudade
Parece que o tempo varreu
Mas mudou em verdade
Atrás daquela capa escura
Quem diria que morava
Um som de sonho e poesia
Que luz ao mundo dava
Atrás da noite há o dia
Atrás do real a quimera
Por detrás dos olhos a luz
Nos teus braços, Primavera!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Cai a neblina...
Cai neblina por cima do dia
Miudinha, triste, persistente
Não dá para chorar e a gente
Acomoda-se á melodia
Tudo fica bem no silêncio
Educa-se coração e olhar
A rotina é como verdete
Não se vê se não se limpar
Dá-se uma volta pela praça
Dá-se uma volta pela praia
Olha-se desconfiado o tempo
Que o frio está de atalaia
O Outono chegou de repente
Bem dentro do coração
Já caiu a folha da alma
O vento assobia em vão…
Atrás dos teus olhos
Não vejo os teus olhos, porque os perdi,
Por detrás da tua forma de olhar…
Algo me cegou e mil vezes eu morri,
Para poder essa porta cruzar…
Pelos teus olhos passam quimeras
Outros sonhos, outras eras…
Atrás dos teus olhos há certezas
Dúvidas, anseios e belezas…
Nos teus olhos o mundo é sal
Fúria, paixão e matagal,
Ondas de calor, gelo sombrio,
Lava que escorre como um rio...
Mas há também o inefável
A essência do meu sorriso
Encontro-me como num espelho
Só isso, para mim,é preciso.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Pobres meninos...
Pobres meninos
que choram sozinhos
Pobres crianças
desamparadas
Pobres de nós
que por detrás do tempo
Somos sempre meninos
de caras lavadas…
Pobres, pobrezinhos
dos grandes pequeninos
De sulco de lágrima vincada…
Pobres dos órfãos da vida
Pobres de nós tão velhinhos
Pais-meninos tão perdidos
Avós sem casa, sem nome,
Como é pode a vida ser tão danada?
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